Friday, March 1, 2024

The Red Nights of the Gestapo (1977)




 The Red Nights of the Gestapo é um enigma entre os nazi-exploitations lançados em 1977. Escrito e dirigido por Fabio Di Agostini, o filme tem pretensões históricas fortes, ao mesmo tempo em que apresenta cenas de perversão sexual no melhor estilo de filme grindhouse.  O próprio fato de ter sido lançado no ano de outro do nazi-exploitation parece ser uma coincidência. Ao contrário de seus contemporâneos, a violência de The Red Nights of the Gestapo é discreta, e sua mensagem anti-guerra é bastante sutil. Trata-se do terceiro e último filme do diretor, o primeiro tendo sido feito vinte anos antes, em 1957, e o segundo em 1970. Não se pode acusar Agostini de ser um aproveitador do calibre de Bruno Mattei: este é um filme que ele queria muito fazer. O difícil é entender o que o levou a isso.

The Red Nights of the Gestapo começa com um letreiro sobre a fuga de Rudolf Hess para a Inglaterra, em 1941. Braço direito de Adolf Hitler, Hess escapou para tentar negociar paz com os Aliados. Revoltado com o acontecimento, Heinrich Himmler (representado aqui por, em uma ótima caracterização) coage o capitão Werner von Uhland a aceitar uma missão. Com o objetivo de sacudir a Intelligentsia alemã e evitar traições como a de Hess, von Uhland deve reunir um grupo de homens poderosos e impedir que unam forças para tentar forçar um tratado de paz. Von Uhland aceita a missão de bom grado, já que a sua recusa resultaria em fuzilamento, já que ele era responsável por vigiar o espaço aéreo quando Hess escapou.

A estratégia do capitão é convidar esses homens para um fim de semana na mansão campestre de Helmut von Danzig (Fred Williams) e apelar para a perversão sexual preferida de cada um deles. Estas vão desde bondage e sexo grupal até lactofilia (fetiche por leite materno) e pedofilia. Para isso, von Uhland recruta mulheres em bordéis e manicômios, até encontrar aquelas aptas a satisfazer todo e cada fetiche da forma mais completa possível. Assim, conseguirá o material necessário para chantagear o grupo de intelectuais e impedi-los de trair o partido nazista.



A trama de The Red Nights of the Gestapo está longe de ser emocionante, mas talvez uma execução mais séria poderia render um bom drama político. O seu defeito está exatamente em ser um nazi-exploitation, dedicando tanto tempo a nudez e fetiches sexuais, e ao mesmo tempo querer tratar de temas tão burocráticos. Não há urgência alguma na trama, exceto por quando von Uhland descobre que ele mesmo está sendo espionado pela Gestapo, mas mesmo essa subtrama é resolvida antes da primeira hora de projeção.

As motivações do próprio von Uhland são confusas, já que em alguns momentos ele parece determinado em cumprir sua missão, enquanto em outras parece querer virar o jogo para sabotar o próprio partido nazista de dentro para fora. Mesmo que este seja seu objetivo, os meios que ele usa para atingi-lo impedem que ele se torne um personagem simpático.

Ainda assim, The Red Nights of the Gestapo possui algumas escolhas estéticas interessantes. As cenas envolvendo Heinrich Himmler em seu quartel general são os melhores momentos do filme, utilizando a cenografia, edição e fotografia para criar uma aura poderosa e aterrorizante ao redor do comandante da SS. Nazi-exploitations raramente utilizam figuras históricas como personagens, mas The Red Nights of the Gestapo o faz de maneira memorável.

Por falar em cenografia, os cenários são em sua maior parte deslumbrantes, especialmente dentro do castelo de Danzig, onde as orgias acontecem. A câmera tem um fetiche em explorar o ambiente ao seu redor em cortes bruscos e ângulos estilosos, criando um clima onírico que dá personalidade ao filme. Há em cada cena um refinamento estético que faz muita falta em um filme como SS Girls ou Nazi Love Camp 27, e que é a principal razão para se assistir a Red Nights of the Gestapo ao menos uma vez.

Este refinamento está presente mesmo nas cenas eróticas, como naquela em que a projeção de um documentário sobre Hitler é interrompido por um strip-tease que rouba a atenção dos intelectuais ali reunidos. A exposição dos corpos das belas atrizes é muitas vezes precedida de algum ritual burlesco com temática nazista, num espírito teatral que reflete as intenções de von Uhler de manipular os homens poderosos que reuniu no castelo.

Contudo, o aspecto mais curioso de The Red Nights of the Gestapo não está na tela, mas sim nos bastidores. Os créditos iniciais informam que o roteiro de Agostini, em parceria com Oscar Righini, foi baseado em fatos históricos retratados nas memórias de Bertha Uhland, esposa de Werner von Uhland e interpretada no filme por Paola Maiolini. Na verdade, o próprio diretor redigiu o livro Dopo Rudolf Hess Solstizio di tenebre - memorie de Bertha Uhland, uma obra de ficção lançada no ano seguinte ao filme. Logo, as próprias ambições históricas do filme foram fraudadas, numa estratégia desonesta para convencer o espectador de que o que está vendo realmente aconteceu.



Se há um paralelo histórico a ser feito entre a trama e a história alemã, é com a Noite das Facas Longas. Em junho de 1934, Adolf Hitler ordenou um expurgo dos membros da SA, organização paramilitar do partido nazista, que resultou na execução de diversos homens leais ao líder Ernst Röhm. A Noite das Facas Longas já havia sido retratada por Luchino Visconti no clássico neo-decadente Os Deuses Malditos (1969), e é recriada no massacre do clímax de The Red Nights of the Gestapo. Não apenas por causa do massacre final, mas também por conta do título italiano original Le Lunghe Notti Della Gestapo (As Longas Noites da Gestapo). O título americano faz pouco sentido, e o filme foi lançado em VHS no Brasil com um nome ainda mais estranho, As Noites Rosa da Gestapo.

Aparte essas curiosidades e seu apuro técnico, The Red Nights of the Gestapo não se sustenta como cinema. Com uma duração excessiva (110 minutos) e uma história desinteressante, o filme só pode ser recomendado como uma curiosidade para os curiosos na história do nazi-exploitation. Vista dessa maneira, a obra tem os seu fascínio, e ganha pontos por escapar dos clichês de um gênero, provando o quão complexo e multifacetado este pode ser.


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