Friday, February 23, 2024

Nazi Love Camp 27 (1977)


.


 Visto isoladamente, Nazi Love Camp 27 é um nazi-exploitation acima da média, com uma trama cheia de reviravoltas e uma protagonista forte e diversas cenas chocantes e apelativas. Mas ao se analisar o filme de Mario Caiano dentro da filmografia do gênero, é possível perceber a sua importância. Na sua curta metragem, Nazi Love Camp 27 passeia por praticamente todos os subgêneros dentro do filão, apresentando um panorama de tudo o que já havia sido feito dentro dele até então. Dessa maneira, o filme serve como o supra-sumo do nazi-exploitation, sem deixar de ser uma obra coesa e bem amarrada.

O responsável por essa coesão é o roteirista Giafranco Clerici, experiente artesão do cinema exploitation responsável por obras como O Segredo do Bosque dos Sonhos (1971), O Anticristo (1974), Holocausto Canibal 1980 e O Estripador de Nova York (1981). Clerici entendia o cinema exploitation como poucos, e é de se imaginar que tenha comparecido a diversas sessões de filmes nazi-exploitation antes de criar a história de Nazi Love Camp 27 ao lado de Sandro Amari.

Já Mario Caiano, que também possui crédito no script final, acabou na cadeira do diretor por pura necessidade financeira. Caiano, que assinou a direção como William Hawkins, havia dirigido diversos western spaghetti e filmes exploitation, e tentou fazer o melhor possível com um projeto no qual não acreditava. Ainda assim, sua direção é competente, ainda que convencional. Não há momentos de insanidade visual como os criados por Cesare Canevari, mas passa longe da mediocridade de um Lee Frost em Love Camp 7.

A força motriz de Nazi Love Camp 27 é a atriz finlandesa Sirpa Lane, intérprete da protagonista Hannah Meyer/Lola Karr. Lane havia começado sua carreira como modelo de nudez, e foi descoberta pelo cineasta francês Roger Vadim, que queria transformá-la na nova Brigitte  Bardot. Lane ficou célebre por seu papel no bizarro La Bête, mas sua carreira promissora nunca alçou voos altos. Ela fez vários exploitations menores, e seu último filme foi Giochi Carnali, de Andrea Bianchi. Sirpa sumiu dos holofotes até sua morte por AIDS em 1999, sem jamais ter concretizado o seu imenso potencial.

A primeira cena de Nazi Love Camp 27 se passa pouco antes do horror nazista, quando a jovem judia Hannah passeia de bicicleta pelo campo com seu namorado Klaus Berger (Roberto Posse). Depois de nadarem num lago, os dois jovens perdem a virgindade juntos, num momento bucólico que é interrompido pela ascensão de Hitler. A montagem faz uso de imagens de arquivo para simbolizar a invasão a Paris, onde a garota é capturada ao tentar defender sua família contra os invasores.

Klaus se junta à SS, enquanto Hannah é mandada para um campo de concentração. Lá, ela é recrutada para um campo do amor, onde é violentada por meses até cair nas graças do Capitão Kurt von Stein (Giancarlo Sisti), um poderoso oficial com tendências fortemente masoquistas. Hannah e Stein desenvolvem uma relação doentia, que leva o capitão a forjar a morte da garota e criar-lhe a identidade falsa de Lola Karr. Hannah abraça a identidade de Lola e, junto com Stein, abre um bordel para satisfazer os prazeres dos generais nazistas, que jamais desconfiam de que ela é judia.

Paralelamente, acompanhamos a jornada de Klaus, que, após ser ferido em batalha, assume a tarefa de coordenar um projeto especial para o serviço secreto alemão. A ideia é gerar bebês de alta qualidade genética para serem criados pelo Estado, sem vínculos familiares, que possam um dia formar o alto escalão do governo. Mas Klaus abandona o projeto ao descobrir que sua irmã (Renata Moar, famosa por ter protagonizado a cena de coprofagia em Salò) é uma das voluntárias para gerar essas crianças.

No arco de Klaus e, principalmente, no de Hannah, podemos ver toda a jornada do nazi-exploitation se descortinando. Todos os elementos caros aos gêneros estão lá, desde os óbvios como campos do amor, bordéis e experimentos; até alguns mais sutis, como o oficial nazista arrependido e travestismo. Nazi Love Camp 27 não é o nazi-exploitation ideal para se apresentar a um não iniciado (SS Girls ainda é o melhor nesse quesito), mas é uma experiência fascinante para aqueles que já viram sua cota de filmes do gênero.

Nazi Love Camp 27 é, acima de tudo, um filme sobre sobrevivência, e os limites aos quais se pode ir para conquistá-la. Hannah, nas primeiras cenas, é uma garota forte e decidida, que não hesita em matar um soldado alemão que invade o seu apartamento. Depois de capturada, ela tenta com todas as forças se manter sã no meio do inferno de se prostituir aos soldados nazistas cansados do front. Depois de recusar os avanços da diretora do campo, ela é mandada para a execução, mas ganha as graças de Stein, que a leva para o seu próprio covil, onde ela o domina com um chicote. Daí em diante, Hannah se torna objeto de adoração do capitão, ganhando vestidos e joias e vivendo uma vida confortável. Seduzida por esse conforto, ela se confunde com seus algozes, e passa a fazer parte da mesma máquina de guerra que massacrou seu povo.

Num dos momento chave do filme, Hannah completa sua transformação ao acobertar o assassinato de uma prostituta do seu bordel nas mãos de um general. Ela agora não é melhor do que os soldados que mataram sua mãe e mandaram seu pai para um campo de concentração. Klaus, enquanto isso, tentou manter sua sanidade salvando a vida do maior número de inocentes possível no front, mesmo sabendo que é uma gota d’água no oceano.

Nazi Love Camp 27 uma obra completa, embora não sendo tão bem acabada como Gestapo’s Last Orgy ou Ilsa She Wolf of the SS. Não ajuda o fato de o filme estar disponível apenas em uma cópia horrível, transferida do VHS. Os detratores do nazi-exploitation, especialmente aqueles que o consideram um gênero maniqueísta, vão ter uma boa surpresa com Hannah Meyer. A garota inocente das primeiras cenas se transforma, através de meses de abuso psicológico e sexual, numa monstruosa dona de bordel, capaz de ocultar crimes sangrentos cometidos por seus clientes. Ainda assim, é impossível perder completamente a simpatia por ela, já que nós também fomos testemunhas das atrocidades pelas quais ela passou.

Enxertos de sexo explícito foram incluídos por pressão dos produtores, que se provam desnecessários numa trama que poderia, com poucas alterações, ser vendida como um drama de guerra não-exploitation. A maioria desses enxertos ocorrem durante as cenas de experimento, onde casais de nazistas copulam num laboratório para gerar a tal “criança perfeita”, ao som da música de Richard Wagner, compositor favorito de Adolf Hitler. Toda essa subtrama soa desnecessária, já que essas cenas foram filmadas e encaixadas no filme após a fotografia principal, para torná-lo mais apelativo. Ainda assim, elas dão sentido ao título original Svastica Nel Ventre, já que, gerando crianças para serem propriedade do Estado alemão, essas mulheres estão criando suásticas em seus úteros.

 


No comments:

Post a Comment