Friday, March 22, 2024

Shock Waves (1977) e Zombie Lake (1981)



 Embora não seja um nazi-exploitation tradicional, Shock Waves merece destaque neste livro por ter sido o precursor do curioso subgênero dos zumbis nazistas. Essa produção britânica foi rodada em 1975, e lançada em 1977, ou seja, um ano antes de Despertar dos Mortos de George Romero. Portanto, Shock Waves se safa da maioria dos clichês dos filmes de zumbi, usadas em dezenas de cópias europeias do filme de Romero que sairiam nos anos seguintes.

A trama de Shock Waves se passa durante um cruzeiro em alto-mar, num navio comandado pelo personagem de John Carradine. Depois de cruzarem com um enorme navio fantasma, os passageiros e a tripulação são forçados a se isolarem em uma ilha nas vizinhanças, onde encontram um hotel abandonado. Neste hotel, vive um ex-comandante da SS, interpretado por Peter Cushing, que coordenou no passado um experimento para criar um batalhão de soldados imortais, capazes de respirar debaixo d’água.

O resultado desse experimento são os bizarros zumbis aquáticos que rondam a ilha. Estes não são comedores de carne humana, nem se proliferam como ocorre em quase todos os filmes do gênero. São soldados putrefatos cujo único instinto é afogar suas vítimas, agindo com precisão militar. Usam uniformes da SS e caminham calmamente pelo fundo do mar, esperando as suas próximas vítimas. A única forma de matá-los é removendo as viseiras de lentes escuras que protegem seu rosto da luz do sol, o que é mais fácil de dizer do que de fazer.

O maior defeito de Shock Waves está nas interpretações fracas da maior parte do seu elenco. Salvam-se apenas os dois nomes mais famosos, Carradine e Cushing, lendas absolutas do horror que têm participações curtas mas essenciais. Cushing, em particular, está fascinante como o comandante arrependido, que viveu décadas isolado na ilha, tentando proteger o mundo dos zumbis que ele mesmo criou. Carradine também está ótimo como o rabugento capitão do navio cruzeiro, e é uma pena que os dois gigantes não tenham nenhuma cena juntos.

Ainda sobre o elenco, todos os zumbis do filme foram interpretados por um grupo de apenas oito atores, enquanto truques de edição fazem parecer que são uma horda muito maior. Um desses atores foi o jornalista Jay Maeder, que trabalhava na época como colunista do periódico Miami Herald People. Conhecido por sua irreverência, Maeder participou de Shock Waves com o objetivo de escrever sobre a experiência para a sua coluna, num artigo chamado I Was a Zombie, que foi publicado antes do lançamento do filme.

Por mais estranha que seja a ideia de zumbis nazistas, ela foi explorada em uma quantidade respeitável de produções nos anos seguintes. O gênero já existia em estágio embrionário desde Revenge of the Zombies, de 1943, filme de propaganda feito pelo governo britânico onde um cientista alemão tenta criar um exército de mortos-vivos. Vale também o filme de 1966, The Frozen Dead, sobre um cientista louco que mantém as cabeças congeladas de oficiais nazistas esperando reiniciar o Terceiro Reich. Esses dois filmes foram feitos antes de A Noite dos Mortos Vivos (1968) filme que mudou para sempre a imagem dos zumbis no cinema de horror.

Em 1981, Jean Rollin lançou Zombie Lake, uma produção francesa da Eurociné. O filme é uma das piores produções já feitas, tanto no nazi-exploitation quanto no gênero zumbi, cheia de erros de continuidade, lógica, edição e cronologia. Cineasta de respeito, Rollin passou o resto da vida tentando esconder que foi o diretor de Zombie Lake, com medo de manchar a sua reputação.

A trama de Zombie Lake trata de um batalhão nazista massacrado à beira de um lago que retorna anos depois para aterrorizar uma pequena vila. A maquiagem dos zumbis se limita a tinta verde aplicada sobre o rosto dos atores (mãos e pescoços não incluídos), e o seu alvo preferido são mulheres nuas nadando ou tomando sol à beira do lago. O mais surreal é o oficial zumbi que tenta reatar os laços com sua filha pequena, apesar do seu estado avançado de putrefação.



Zombie Lake passa longe da qualidade da maior parte da filmografia de Rollin, e se aproxima mais dos piores filmes do espanhol Jesus Franco, diretor originalmente escalado para o projeto. Ainda assim, Franco teve sua chance com zumbis nazistas, no igualmente abismal Oasis of the Zombies. Numa trama igualmente absurda, envolvendo a caça a um tesouro nazista no deserto da África, Oasis of the Zombies existe em duas versões, uma francesa e outra espanhola, com atores diferentes assumindo determinados papéis em cada uma delas.

O infame diretor exploitation Joel M. Reed deu sua contribuição ao tema com Night of the Zombies (1981). Diretor polêmico, famoso pelo longa de 1976 O Incrível Show de Torturas, Reed criou um filme lento com poucos zumbis, que não agradou a nenhum tipo de público. Foi seu último trabalho como diretor, embora continue trabalhando como ator até hoje. Curioso notar a presença de Jamie Gillis no papel principal. Gillis foi um ator pornô de sucesso, e ainda em 1981 teve seu papel mais lembrado no cinema mainstream, no longa Os Falcões da Noite.

Os zumbis nazistas ficaram esquecidos por um tempo, mas nos últimos anos foram revividos em dezenas de filmes de horror de baixo orçamento. O melhor de todos é a produção dinamarquesa Dead Snow (2009), que mostra um batalhão de mortos vivos atacando em montanhas cobertas de neve. A proposta do filme não é ser levado a sério, mas criar um festival gore que remete aos primeiros filmes de Sam Raimi e Peter Jackson. O diretor Tommy Wirkola foi importado para Hollywood onde dirigiu o fraco João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013) e no ano seguinte voltou para a Dinamarca para dirigir Dead Snow 2 (2014).



Atualmente, um grande mercado para os zumbis nazistas são os filmes direto para o vídeo, em filmes como Zombienation (Hail to the Führer) (2009), Blubberella (2011) e A Chance in Hell (2011). O longa Operação Overlord (2018) foi o mais mainstream que esse subgênero conseguiu chegar, sendo exibido em grandes cinemas e com efeitos especiais de alto nível. Ainda que os monstros mostrados em Operação Overlord não sejam exatamente zumbis tradicionais, o longa merece menção, especialmente por conseguir equilibrar os gêneros de guerra e horror. 

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