Friday, March 15, 2024

Nathalie: Escape From Hell (1977) e East of Berlin (1977)


 O curto ciclo nazi-exploitation da Eurociné termina em 1978, com dois filmes bem abaixo da média: Nathalie: Escape From Hell (Alain Payet) e East of Berlin (Pierre Chevalier e Jesus Franco). Dois filmes bastante diferentes em teor e tema, ambos são feitos por diretores experientes no cinema exploitation. Payet já havia dirigido Hitler’s Last Train, e continuaria uma longa e prolífica carreira no cinema de baixo escalão, nunca parando de dirigir até sua morte em 2007.

Já Jesus Franco é uma lenda no cinema exploitation, tendo dirigido centenas de filmes de qualidades extremamente variadas. No seu currículo encontra-se obras-primas como O Terrível Dr. Orloff (1962) e Eugenie (1970) ao lado de tranqueiras inacreditáveis como Dracula Vs. Frankenstein (1972) e diversos filmes WIP, pornôs explícitos e obras de gosto discutível. Difícil dizer o quanto de East of Berlin foi dirigido por ele, já que assina o filme ao lado do também experiente Pierre Chevalier.

Patrizia Gori vive a personagem título de Nathalie, uma médica que cuida sozinha dos enfermos de uma vila tomada pelos nazistas, viajando de casa em casa em sua bicicleta para prestar cuidados médicos. Enquanto dá assistência a um idoso, Nathalie é surpreendida por um batalhão nazista que chega com um oficial mortalmente ferido pela resistência. Incapaz de salvar a vida do oficial, ele é tomada como prisioneira e enviada para um campo.



O destino final de Nathalie é o castelo de Stillberg, anteriormente usado pela Eurociné em Helga, She Wolf the Stillberg, também dirigido por Payet. De fato, Nathalie é quase uma refilmagem desse filme, trocando as referências indiretas ao nazismo por outras mais literais. A vilão de Nathalie também é uma dominatrix chamada Helga, interpretada por Jacqueline Laurent, que desenvolve uma obsessão doentia por Nathalie.

Enquanto o filme se ocupa da tradicional trama de dominação entre nazistas e prisioneiros, há ainda uma sub-trama de espionagem. Esta é apresentada numa cena cômica onde oficiais aliados preparam um café com uísque e debatem a necessidade de se resgatar uma prisioneira em Stillberg que sabe de planos cruciais para derrubar os nazistas. Um destes oficiais consegue se infiltrar como membro da Cruz Vermelha e incumbe Nathalie de cumprir a missão.

Nathalie é um nazi-exploitation padrão, que grita bingo na lista de chavões do filão. A heroína de Patrizia Gori tem bastante agência dentro da trama, e o fato de ser médica lhe dá bastante coisa para fazer na trama. Jacqueline Laurent dá tudo de si no papel da cruel Helga, criando uma ótima vilã, injustamente esquecida entre as Elsas e Ilsas do gênero. O filme sobrevive em uma cópia razoável que valoriza a bela fotografia, especialmente nos cenários dentro do castelo de Stillberg.

Difícil é encontrar qualidades para se enaltecer em East of Berlin. Considerando que naquele mesmo ano Jesus Franco dirigiu Women in Cellblock 9, um dos mais extremos WIPs da história do cinema, é estranho notar o quanto ele está contido em East of Berlin. Pode-se até dizer que Franco está completamente desinteressado no filme, embora não se possa dizer o quanto foi dirigido por ele e por Chevalier. Com longos takes estáticos de diálogos monótonos, personagens sem propósito e uso abundante de imagens de arquivo é quase como se East of Berlin tivesse se dirigido sozinho.



A protagonista aqui é Renata (Brigitte Parmentier) uma jovem alemã que aceita se prostituir em um bordel nazista para proteger a vida do pai, preso por esconder uma jovem judia em sua casa. Seu caminho se cruza com o do capitão Erich von Strasser (Jean-Marie Lemaire) seu amigo de antes da guerra, que tenta ajudá-la a fugir daquela vida. Mas logo Renata é selecionada para servir num trem-bordel no front, ao passo que Erich é enviado para lutar na Rússia. Por mais improvável que seja, eles se encontram de novo e decidem fugir da guerra, largando a ideologia nazista para trás.

East of Berlin é um filme absurdamente barato, que faz uso de imagens de arquivo não apenas de documentários da guerra, mas também dos filmes da Eurociné. A batalha inicial, com soldados atacando um forte no deserto, vem de um filme de 1971 chamado Heroes Without Glory. A seleção das garotas a serem enviadas para o trem-bordel é feita por Malisa Longo, em cenas retiradas diretamente de Fraulein Kitty. Quando o trem é atacado pela resistência francesa, são as mesmas tomadas feitas em Nathalie. Imagens do trem percorrendo os trilhos são as mesmas de Fraulein Kitty e Hitler’s Last Train. Cenas reais de pelotões alemães marchando com uma tomada de Elsa executando um oficial desertor, juntando realidade e ficção de maneira canhestra. Franco chega ao ponto de usar a trilha sonora de fundo de uma cena de festa de Hitler’s Last Train para economizar gravar um áudio novo para um momento similar em seu filme.

Franco voltaria brevemente ao tema do nazi-exploitation com seu WIP Jailhouse Wardress, que também faz uso de cenas de Hitler’s Last Train e Fraulein Kitty, embora a conexão aqui seja mais frouxa. O filme, também lançado pela Eurociné, trata de uma oficial nazista que foge para a América do Sul depois do fim da guerra, e se torna a diretora de uma prisão feminina.

E assim termina a breve aventura da Eurociné no nazi-exploitation tradicional. A produtora, que fechou em 1989, não conseguiu trazer nada de muito memorável no gênero, embora tenha dado uma contribuição importante para o gênero de zumbis nazistas, conforme veremos no próximo capítulo. O nazi-exploitation, já moribundo começava a dar os seus últimos suspiros. O interesse do público por tramas de violência e sexo nunca diminuiu, mas essas tramas não mais aconteciam em campos do amor e bordéis decorados com suásticas. Para sobreviver, o nazi-exploitation precisava se adaptar e reinventar, algo que nunca chegou a fazer de maneira relevante. Os produtores de cinema barato estavam sempre interessados em dar ao público o que ele queria. E, após a explosão do filão 1977, o público parece ter se cansado dele.


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