Saturday, March 30, 2024

Holocaust 2: The Memories, Delirium and the Vendetta, Part Two


Um dos filmes mais incompreensíveis do cinema italiano de gênero (o que não é dizer pouco) Holocaust 2: The Memories, Delirium and the Vendetta, Part Two mistura nazi-exploitation, espionagem, experimentos genéticos, erotismo e toques de misticismo. A ideia de uma organização judia dedicada a capturar e matar criminosos de guerra é interessante, e poderia se adequar bem ao gênero. Mas o resultado final não apela a nenhum público, exploitation ou não. O leitor talvez tenha reparado no fato de que o título do filme informa duas vezes de que se trata de uma “parte 2”. Isso foi deliberado. Feito em 1980, quando o nazi-exploitation já havia deixado de ser um filão lucrativo, Holocaust 2 procura uma associação com a célebre minissérie televisiva Holocausto, estrelando Meryl Streep e Michael Moriarty, que fez grande sucesso em 1978. A propaganda é enganosa, pois, à parte um flashback, o filme se passa anos depois do fim da guerra. Os elementos nazi-exploitation estão presentes em doses homeopáticas, em cenas enxertadas sem muito critério. O filme ainda desperdiça a atriz Tina Aumont, que aparece rapidamente no tal flashback num campo de concentração. Talvez ciente de que Aumont era a melhor atriz do filme, o diretor Angelo Pannacicò repete essa cena inúmeras vezes durante a trama. Holocaust 2 caminha a passos de tartaruga depois de um início promissor, onde os agentes judeus encurralam um comandante nazista (William Berger) em sua casa e o matam junto com sua filha. O plano seguinte dos agentes é matar Lorenzo (Andrés Resino) o filho de um recluso criminoso de guerra nazista, na esperança de atrair o seu pai para uma emboscada. Parece simples o suficiente, mas a história começa a ficar confusa conforme o plano se desenvolve. A serviço dos agentes judeus está Dorothea (Kai Fisher), filha da personagem de Aumont, que foi vítima de experimentos nas mãos dos médicos nazistas, o que lhe conferiu poderes mentais especiais. Ela planeja hipnotizar a jovem andarilha Lucilla (Suzana Levi) para seduzir e matar Lorenzo no seu lugar. O mais estranho é a imensa semelhança física entre Lucilla e Dorothea, o que nos leva a questionar por que a hipnotizadora escolheria uma sósia para substituí-la no crime. Paralelamente, Holocaust 2 segue Felix Oppenheimer (o ex-fisiculturista Gordon Mitchell, que fez um comandante nazista em Achtung! Desert Tigers) um agente com a missão de facilitar o trabalho de Lucilla. Mitchell é uma presença estranha no filme, escondendo-se num disfarce de vendedor ambulante sem fazer muita coisa de útil pela maior parte da trama. Mesmo sendo um ator de presença imponente e com um currículo impressionante em filmes de sandália e espada, Mitchell poderia muito bem ser cortado de Holocaust 2 sem prejudicar nada além da (já curta) metragem do filme.


Essa incoerência tem explicação. A trama envolvendo Dorothea e Lucilla foi originalmente filmada em 1972 para o filme Subliminal, Una Splendida Giornata per Morire, que contava basicamente a história da garota com poderes mentais decidida a cometer um crime utilizando o corpo de outra. O filme permaneceu incompleto por anos, até que, com o revival do tema devido à citada minissérie, o diretor Pannacciò resolveu filmar novas cenas e redublar o filme, na esperança de ter de volta o dinheiro investido.

Isso explica por que as duas tramas principais (a caçada a criminosos nazistas e a relação de Dorothea com Lucilla) jamais se cruzam, e parecem fazer partes de filmes diferentes. Até os créditos iniciais soam completamente deslocados, com uso de fotografias da guerra aparecendo ao lado dos nomes do elenco e equipe. No mínimo desonesto para um filme que se passa quase todo numa ensolarada cidade à beira mar, com fartas tomadas de praias e mercadores de peixe.

Uma cena em particular, em que o médico nazista é capturado enquanto visitava o túmulo de seu filho, é risível. O diálogo entre o refém e seus algozes acontece todo em voice over, enquanto a câmera acompanha um carro pelas estradas da cidade. A cena seguinte, que poderia ser o ápice do filme, apenas deixa o espectador mais confuso. O médico é amarrado a uma maca, onde um bode lambe as solas de seus pés, fazendo cócegas até que ele morra de rir. Impossível compreender o que passou pela cabeça do diretor e roteirista Pannacciò para conceber essa cena, que nunca mais é referenciada pelos personagens.


A missão continua, pois aparentemente há mais criminosos de guerra se escondendo naquela mesma cidade. Depois de matar um casal de nazistas com uma furadeira, Lucilla retorna para a casa de Dorothea, onde, após consumar o amor de uma pela outra, elas se matam. Por que fizeram isso? Por que Dorothea precisava de Lucilla para cometer os crimes? Quem era Lucilla, e o que estava fazendo naquela cidade? Qual a ligação das duas com a organização de caçadores de nazistas? Seria Lucilla uma sobrevivente do Holocausto, como Dorothea? E qual o papel de Felix em tudo isso? A conclusão de Holocaust 2 deixa mais perguntas do que respostas, e mesmo com toda a boa vontade do mundo, é difícil não ficar frustrado quando os créditos finais começam a rolar.

Desnecessário dizer que Holocaust 2 não foi bem sucedido o suficiente para reviver o nazi-exploitation, que já estava morto desde o fim de 1978. Como qualquer gênero do cinema exploitation, ele teve seu momento de glória e caiu no esquecimento. Algumas dessas obras seriam lançadas em VHS, em cópias que se tornaram cada vez mais raras. Foi só depois do fenômeno do DVD que ele pôde ser redescoberto, especialmente em cópias piratas convertidas desses mesmos VHS. Hoje, quase todos os filmes do gênero estão disponíveis para download pirata ou mesmo no YouTube, em cópias sem corte.

Holocaust 2 foi o último respiro do nazi-exploitation em sua forma tradicional. Mas não representa o final da nossa jornada. O gênero teve uma ligeira sobrevida em 1988 Fantasmas de Sodoma de Lucio Fulci e, mais recentemente, com homenagens de cineastas como Rob Zombie e Keith J. Crocker. É o que examinaremos nos capítulos seguintes.

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