Friday, January 5, 2024

Deported Women of the SS Special Section (1976)






 Há uma aura artística em Deported Women of the SS Special Section (1976) que adiciona um sabor diferente à sua trama batida. Em sua essência, trata-se de um filme de mulheres na prisão, mas que se destaca por ser filmado com mais esmero que o usual. O diretor Rino di Silvestri era um legítimo auteur do cinema exploitation, tendo roteirizado todos os filmes que dirigiu. Essa dedicação fica clara ao longo do filme, por mais barato e apelativo que ele possa ser. Di Silvestri fez questão de fazer o filme o mais acurado possível, tendo pesquisado exaustivamente os figurinos e construindo personagens complexos e bem definidos.

Pertencendo à fase inicial do nazi-exploitation, Deported Women of the SS Special Section faz pouco das convenções do gênero, embora decididamente pertença ele. A intenção é claramente fazer um filme de guerra sério, embora sem economizar no sexo, nudez e violência. Seu maior trunfo é a ambientação do campo de concentração instalado em um castelo medieval, o que contribui para o tom pesado e claustrofóbico do filme. As cenas interiores (praticamente a metragem inteira) foram filmadas no Castelo Bracciano em Roma, diferente da maioria dos nazi-exploitation, que eram rodados em fábricas abandonadas ou cenários remanescentes de outros filmes.

O campo recebe um carregamento de prisioneiras, algumas das quais serão utilizadas como prostitutas, enquanto outras serão usadas como cobaias em experimentos. Dentre as garotas destacam-se a acrobata italiana Angela Modena (Stefania D’Amario), a francesa Monique Dupré (Sara Sperati, de Salon Kitty) e, principalmente Tania Nobel (Lina Polito). Polonesa de família aristocrata, Tania é velha conhecida do comandante do campo, Herr Erner (John Steiner, também de Salon Kitty), que nutre por ela uma paixão insatisfeita. Vendo-se de posse do objeto de sua obsessão, Erner se dedica a torturar Tania psicologicamente até que ela se entregue a ele. O filme também apresenta um personagem curioso na figura de Dobermann (Guido Leontini) o capanga mudo de Herr Erner, que remete aos assistentes corcundas de cientistas loucos em antigos filmes de horror.

O tema de subjugação sexual permeia o filme inteiro, seja no desejo das guardas pelas prisioneiras, ou na frustração de Erner por não conseguir dominar Tania, apesar de todos os seus esforços. Essa frustração é descontada em Dobermann, na cena mais perturbadora do filme. Erner é um personagem patético e claramente impotente. Incapaz de tomar Tania a força, seu desejo é que ela se entregue a ele por vontade própria. Ciente disso, a garota prepara uma armadilha com um pedaço de rolha com lâminas de barbear introduzida na sua vagina, castrando o comandante bem quando ele acreditava ser capaz de tomá-la.




John Steiner entrega uma interpretação peculiar como Herr Einer, por vezes contido, às vezes exagerado e cartunesco. Ator prolífico do cinema exploitation, Steiner é hoje um corretor de imóveis bem-sucedido, e já provou ser capaz de atuações melhores com um roteiro mais coeso à sua disposição. Há ecos do seu personagem no comandante von Starker de Gestapo’s Last Orgy (1977) e, principalmente em Hans Schellenberg de SS Girls (1977).

Mas Erner não é a única fonte de violência sexual em Deported Women of the SS Special Section. Monique Dupré é abusada por uma das guardas, sendo forçada a transar com ela enquanto as outras dormem. A cena é filmada no melhor estilo exploitation, embora seja difícil imaginar alguém se sentindo excitado dentro desse contexto. Já o momento mais tenso é quando Angela Modena tenta uma fuga escalar a muralha do campo sem sucesso, sendo executada em seguida. Suas companheiras acabam descobrindo que a melhor rota de fuga não é passando por cima dos muros, mas por baixo deles, por uma passagem secreta construída pelos donos originais do castelo.

Outro momento marcante, e que dialoga diretamente com o tema central do filme, decorre da descoberta do romance entre a e um oficial. Despidos e forçados a copular na frente do campo inteiro, eles dividem uma pílula de cianeto num último beijo, morrendo juntos. Um momento melodramático poderoso que não faria feio em uma produção mainstream, mas que infelizmente perde boa parte do seu efeito por conta de problemas de edição.

Deported Women of the SS Special Section é um filme com personalidade própria, e confiante nos seus próprios méritos. Não tenta forçar comédia em momento nenhum e, mesmo sendo um sexploitation, trata o tema com respeito e sobriedade. Mesmo que essas pretensões não sejam completamente atingidas, ainda é um dos melhores exemplares do nazi-exploitation já produzidos. 



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